Metafisica de Parménides



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Metafisica de Parménides

Com Parménides podemos afirmar que a metafisica pré-socrática chegou ao seu ápice, conquistou o ser. Nada é maior que o ser e nada pode existir fora do ser o conceito de ser abarca toda a realidade e diz tudo a respeito da realidade (http://iffilosofia.blogspot.com/2011/10/parmenides-e-os-principios-da.html, acesso no dia 17 de Março de 2018).
Parménides chegou, alcançou, esse ápice da referência ontológica não através dos sentidos, não através da experiência sensível, mas através da razão. A razão compreende que somente o ser é e que nada pode existir fora do ser. Então pode dizer que o “ ser” é e o “não-ser” não é. Outro princípio que deriva disso é o tertium non datur    (a  lei  do  terceiro  excluído)  (dois  pilares  da  lógica  clássica). Além disso Parménides foi o primeiro a pensar a uma relação que será uma relação clássica.
Pensar e ser. No sentido que podemos pensar somente o que é, não podemos pensar o que não é. O pensar nessa maneira se torna a realidade verdadeira na qual é presente a totalidade do ser. O ser pensa, pensa o quê? Pensa o ser, pensar em si mesmo, pois ele é realidade do ser. (motor imóvel) Mas nessa correspondência equivalente entre ser e pensamento reside também os limites da metafisica de Parménides. A sua expressão mais contesta e justamente essa e o mesmo é pensar e ser.
O primeiro mérito é que pôs o princípio, primeiro em uma realidade que o ser que transcende a realidade tanto de ordem física quanto de ordem matemática. O segundo mérito, ele concedeu o universo não como uma somatória de entes, mas como o ser que o princípio fundamental de todos os entes. Para Parménides o devir era sinónimo de erro, de nada, de não-ser, porque o devir está fora do ser.
Para Jaeger, “Sem dúvida a ideia principal de Parménides é o ser, que é eterno e imutável.” Mas isso não quer que necessariamente eliminar o devir.
Para Jaeger, Parménides condena o absoluto do devir.” Não existe em Parménides a diferença ontológica entre “ente” e “ser” que encontraremos em Aristóteles, Boécio, Heidegger e nem existe na metafisica de Parménides a subsistência do ser como pessoa, que será a grande “descoberta” de Tomás de Aquino. Transcendência e Imanência. Para os gregos, o divino não era uma dimensão externa ao mundo, mas era a parte melhor do mundo. Para elaborar uma metafisica de cunho verdadeiramente transcendental faltava a Parménides e a todos os outros pré-socráticos um conceito fundamental, conceito de Espirito (SPINELLI, 2003:273-349).
Trata-se de uma verdadeira revolução cultural na história da humanidade, que terá consequências para toda cultura ocidental e também para o mundo inteiro.

O vir a ser

Quanto às mudanças e transformações físicas, o Vir-a-Ser, que a todo instante vemos ocorrer no mundo, Parménides as explicava como sendo apenas uma mistura participativa de ser e não-ser. “Ao vir-a-ser é necessário tanto o ser quanto o não-ser. Se eles agem conjuntamente, então resulta um vir-a-ser”.
Um desejo era o factor que impelia os elementos de qualidades opostas a se unirem, e o resultado disso é um vir-a-ser. Quando o desejo está satisfeito, o ódio e o conflito interno impulsionam novamente o ser e o não-ser à separação.
Parménides chega então à conclusão de que toda mudança é ilusória. Só o que existe realmente é o ser e o não-ser. O vir-a-ser é apenas uma ilusão sensível. Isto quer dizer que todas as percepções de nossos sentidos apenas criam ilusões, nas quais temos a tendência de pensar que o não-ser é, e que o vir-a-ser tem um ser (SPINELLI, 2003:321).

O ser absoluto

Toda nossa realidade é imutável, estática, e sua essência está incorporada na individualidade divina do Ser-Absoluto, o qual permeia todo o Universo. Esse Ser é omnipresente, já que qualquer descontinuidade em sua presença seria equivalente à existência de seu oposto – o Não-Ser.
Esse Ser não pode ter sido criado por algo pois isso implicaria em admitir a existência de um outro Ser. Do mesmo modo, esse Ser não pode ter sido criado do nada, pois isso implicaria a existência do “Não-Ser”. Portanto, o Ser simplesmente é.
Conforme, SIMPLÍCIO (1991:45), assim nos explica sobre a natureza desse Ser-Absoluto de Parménides: “Como poderia ser gerado? E como poderia perecer depois disso? Assim a geração se extingue e a destruição é impensável. Também não é divisível, pois que é homogéneo, nem é mais aqui e menos além, o que lhe impediria a coesão, mas tudo está cheio do que é. Por isso, é todo contínuo; pois o que é adere intimamente ao que é. Mas, imobilizado nos limites de cadeias potentes, é sem princípio ou fim, uma vez que a geração e a destruição foram afastadas, repelidas pela convicção verdadeira. É o mesmo, que permanece no mesmo e em si repousa, ficando assim firme no seu lugar. Pois a forte Necessidade o retém nos liames dos limites que de cada lado o encerra, porque não é lícito ao que é ser ilimitado; pois de nada necessita – se assim não fosse, de tudo careceria. Mas uma vez que tem um limite extremo, está completo de todos os lados; à maneira da massa de uma esfera bem rotunda, em equilíbrio a partir do centro, em todas as direcções; pois não pode ser algo mais aqui e algo menos ali.”
O Ser-Absoluto não pode vir-a-ser. E não podem existir vários “Seres-Absolutos”, pois para separá-los precisaria haver algo que não fosse um Ser. Consequentemente, existe apenas a unidade eterna.
Teofrasto relata assim esse raciocínio de Parménides: “O que está fora do Ser não é Ser; o Não-Ser é nada; o Ser, portanto, é.

O Ser e suas qualidades

Este princípio, que descobre Parménides e que os lógicos atuais chamam "princípio de identidade", serviu-lhe de base para a sua construção  metafísica. Parménides diz: em virtude desse princípio de identidade (é claro que ele não o chamou assim; assim o denominaram muito depois os lógicos), em virtude do princípio de que o ser é, e o não-ser não é, princípio que ninguém pode negar sem ser declarado louco, podemos afirmar acerca do ser uma porção de coisas. Podemos afirmar, primeiramente, que o ser é único. Não pode haver dois seres; não pode haver mais que um só ser. Porque suponhamos que haja dois seres; pois, então, aquilo que distingue um do outro "é" no primeiro, porém "não é" no segundo. Mas se no segundo não é aquilo que no primeiro é, então chegamos ao absurdo lógico de que o ser do primeiro não é no segundo. Tomando isto absolutamente, chegamos ao absurdo contraditório de afirmar o não-ser do ser. Dito de outro modo: se há dois seres, que há entre eles? O não-ser. Mas dizer que há o não-ser é dizer que o não-ser, é. E isto é contraditório, isto é absurdo, não tem cabimento; essa proposição é contrária ao princípio de identidade.
Portanto, podemos afirmar que o ser é único, um. Mas ainda podemos afirmar que é eterno. Se não o fosse, teria princípio e teria fim. Se tem princípio, é que antes de começar o ser havia o não ser. Mas, como podemos admitir que haja o não-ser? Admitir que há o não-ser, é admitir que o não-ser é. Admitir que o não-ser é, é tão absurdo como admitir que este cristal é verde e não-verde. O ser é, o não-ser não é. Por conseguinte, antes que o ser fosse, havia também o ser; quer dizer, que o ser não tem princípio. Pela mesma razão não tem fim, porque se tem fim é que chega um momento em que o ser deixa de ser. E depois de ter deixado de ser o ser, que há? O não-ser. Mas, então, temos que afirmar o ser do não-ser, e isto é absurdo. Por conseguinte, o ser é, além de único, eterno.
Mas, além de imutável, o ser é ilimitado, infinito. Não tem limites ou, dito de outro modo, não está em parte alguma. Estar em uma parte é encontrar-se em algo mais extenso e, por conseguinte, ter limites. Mas o ser não pode ter limites, porque se tem limites, cheguemos até estes limites e suponhamo-nos nestes limites. Que há além do limite? O não-ser. Mas então temos que supor o ser do não-ser além do ser. Por conseguinte o ser não pode ter limites e se não pode ter limites, não está em parte alguma e é ilimitado.
Mas há mais, e já chegamos ao fim. O ser é imóvel, não pode mover-se, porque mover-se é deixar de estar num lugar para estar em outro. Mas como predicar-se do ser — o qual, como acabamos de ver, é ilimitado e imutável — o estar em um lugar? Estar em um lugar supõe que o lugar onde está é mais amplo, mais extenso que aquilo que está no lugar. Por conseguinte, o ser, que é o mais extenso, o mais amplo que há, não pode estar em lugar algum, e se não pode estar em lugar algum, não pode deixar de estar no lugar; ora: o movimento consiste em estar estando, em deixar de estar num lugar para estar em outro lugar. Logo o ser é imóvel.
Se resumirmos todos esses predicados que Parménides atribui ao ser, encontramos que o ser é único, eterno, imutável, ilimitado e imóvel. Já encontrou bastante coisa Parménides. Mas, ainda vai além.

Teoria dos dois mundos

As coisas são, pelo contrário, movimentos, seres múltiplos que vão e vêm, que se movem, que mudam, que nascem e que perecem. Não podia, pois, passar despercebido a Parménides a oposição em que sua metafísica se encontrava frente ao espectáculo do universo (PARMÉNIDES, 1991).
Então Parménides não hesita um instante. Com esse sentido da coerência lógica que têm as crianças (neste caso Parménides é a criança da filosofia) tira corajosamente a conclusão: este mundo heterogéneo de cores, de sabores, de cheiros, de movimentos, de subidas e descidas, das coisas que vão e vêm, da multiplicidade dos seres, de sua variedade, do seu movimento, de sua heterogeneidade, todo este mundo sensível é uma aparência, é uma ilusão dos nossos sentidos, uma ilusão da nossa faculdade de perceber. Assim como um homem que visse forçosamente o mundo através de uns cristais vermelhos diria: as coisas são vermelhas, e estaria errado: do mesmo modo quando dizemos: o ser é múltiplo, o ser é movediço, o ser é mutável, o ser é variadíssimo, estamos errados. Na realidade, o ser é único, imutável, eterno, ilimitado e imóvel.
Declara então Parménides, resolutamente, que a percepção sensível é ilusória. E imediatamente, com a maior coragem, tira outra conclusão: a de que há um mundo sensível e um mundo inteligível. E pela primeira vez na história da filosofia aparece esta tese da distinção entre o mundo sensível e o mundo inteligível, que dura até hoje.



SANTOS, Wigvan Junior Pereira dos. "O Ser para Parmênides"; Brasil Escola. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/o-ser-para-parmenides.htm>. Acesso em 22 de Março de 2018.
SIMPLÍCIO, da Cilícia. Metafisica de Parménides – pré-socráticos. 2ª Edição. São Paulo, 1991, pp. 45.   
SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos. Primeiros Mestres da Filosofia e da Ciência Grega. 2ª Edição. Porto Alegre: Edipucrs, 2003, pp. 27
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