Os reinos afro-islâmico da costa
A partir do século X, os mercadores árabes que demandavam as costas de "Sofala" foram difundindo o islão entre as populações costeiras, mas foi
apenas após a instalação em Zanzibar dum xeicado dependente do sultanato de Oman, no século XVII, que começaram a organizar-se pequenos
estados de organização islâmica.
Na província de Nampula, no norte de Moçambique, formaram-se o "Xeicado de Quitangonha",
"Reino de Sancul", "Xeicado de Sangage" e "Sultanato
de Angoche".
Com a abolição da escravatura por decreto régio, em 1875, e o seu declínio real, uns dez anos depois, o governo
colonial viu-se obrigado a transformar Moçambique de uma colónia para extracção
de recursos naturais, num território que
devia produzir bens para seu consumo e para exportação para a "metrópole". Essa foi a motivação principal para o
estabelecimento duma administração efectiva, embora também pesassem as pressões
internacionais decorrentes da Conferência de Berlim e das pretensões
territoriais dos britânicos e holandeses.
O sultanato de angoche
Segundo a tradição oral, a origem do Sultanato de Angoche
está ligada a fixação Árabe em Angoche de refugiados proveniente de Quiloa,
Mussa e Hassane, este último morreu durante a viagem e foi enterrado na Ilha de
Mafamane, a sudoeste de Angoche. Porém, Mussa, em visita ao tumulo de Hassane e
reconhecendo as potencialidades de Angoche, como um ponto estratégico para o
trafico de escravo, instalou Xosa, filho de Hassane como o primeiro Sultão de
Angoche.
Com o efeito,
Angoche ganhou importância crescente, quando a capital de Mwenemutapa mudou
para próximo do Zambeze, abrindo desta feita rotas comerciais, seguindo os rios
e seu afluente Mazõe e Luenha. Durante longos anos, Sofala havia sido o entre
posto que controlava o comércio com o interior. Porém, com a fixação portuguesa
neste posto comercial, em 1505, este posto comercial perde a sua influência a
favor de Angoche.
Os
árabes-Shahili, comerciantes de longa data nesta região costeira de Moçambique,
desviaram a rota do ouro para o seu terminiu, em Angoche, donde continuavam a
comercializar o ouro. Por este facto, Angoche seria atraído por Portugueses em
1511, mas sem grandes resultados. Só com a fixação gradual dos portugueses no
vale do Zambeze, desde 1530, aliando a rivalidades internas, é que Angoche
seria eliminado como escoador de Ouro.
Tirando algumas raras e ligeiras referências de Duarte
Barbosa ou de Fr. João dos Santos, sem detalhes, apenas encontramos entre os
antigos escritores referências mais positivas
aos inhabacos e inhamandares de Catamoio em Duarte de
Lemos, que falando na sua acção e influência política sobre os xeques e
populações da costa, entre outras coisas diz: “Dos Mouros de Angoya (Angoche)
estam como estaban: danan todo o trato de Çofala. Parece-me pouquo do vosso
serviço estar ally aquella ladroeira. E razão tinha o cronista: que a
influência do sultanato e seus mujôjos e nobres se exercia perniciosamente por
ser o único principado islâmico com existência efectiva na costa e ter recursos
importantes de ordem material e relações seguidas com outros centros
muçulmanos.
Assim constituíam o obstáculo mais sério para a
realização das nossas empresas e conquistas pela oposição que a esta faziam e
pelo esforço e reacção que pelo seu proselitismo desenvolviam contra nós,
representando indubitavelmente o foco da resistência contra o estabelecimento
da nossa autoridade e do nosso predomínio ao longo das praias de Moçambique e
mesmo para o interior.
Localização Geográfica
O Sultanato de
Angoche, localizava-se em Moçambique, na província de Nampula, no distrito de
Angoche, tendo como limite geográfico, a norte o distrito de Mogincual, a
noroeste o distrito de Namitil e as Sudoeste o distrito de Moma e a oeste o
oceano Indico. A posição geográfica do sultanato de Angoche contribuiu muito
para a sua expansão política. Localizando-se próximo ao litoral, o sultanato de
Angoche era responsável por realizar o comércio de longa distância, controlando
as principais rotas comerciais entre o litoral Indico e o interior do
continente africano. Os chamados Suahilis de Angoche estabeleceram intercâmbios
por meio do Oceano Indico, sobretudo iniciados pelas cidades de Mogadixo,
Quiloa, Brava e outras.
O Xeicado de Sancul
O xeicado de sacul
surgiu no século XVI com povo provenientes da Ilha de Moçambique ficava situado
entre Lumbo e Moginqual, com fácil acesso ao mar.
O poder foi
controlado por um sistema de sucessão de linhagem. Apesar de lealdade do Xeique à coroa, foi
assassinado em 1753 por um comandante português durante a campanha contra os
macuas, que albergavam os escravos foragidos, o que contrariava os interesses
dos traficantes dos portugueses.
Estes incidentes
levou os sucessores do Xeique a romperem as relações com os portugueses. No
século XIX, dirigentes de sancul traficavam escravos. Todas as tentativas de
impedir o trafico foi infrutífera, pois os benefícios se estendiam aos
governadores portugueses.
A partir de 1877,
verificaram-se mudanças causadas pela igualização de conflitos entre os
intervenientes do trafico, tendo culminado com a captura, em 1880 de Makusi
Omar, capitão-mor de sancul e traficante de escravos.
A soberania de sancul começou a ser ameaçada nos finais do século XIX, com o inicio da ocupação efectiva portuguesa. Apesar de resistência dirigida por Suali Bin Ibrahimo, em 1896, foi obrigado a seguir uma política moderada a partir de 1899.
O Xeicado de Quitangonha
A formação do
xeicado de Quitangonha situa-se no século XVI, por população oriundos da Ilha
de Moçambique, entre 1515-1585. Os xeicados foram aliados dos portugueses do
século XVI ao século XVIII o que contribuía para manutenção do tráfico
marítima. A aliança ficou ameaçada com a chegada dos traficantes franceses em
1755, pois, com os lucros obtidos, os xeiques ganharam autonomia e começaram a
ambicionar o controlo do tráfico entre a baia de Nacala até candência, entrando
em choque com os restantes traficantes.
A hegemonia do
xeique manteve-se ate ao século XIX numa extensão que ia até ao interior macua.
Independente dos portugueses, mantinham relações com as Ilhas comores.
Mesmo com a
imposição dos decretos de 1836 e 1842, os xeiques mantiveram os tráficos com os
franceses, americanos, árabes e swahilis. Por outro, os portugueses
demostravam-se incapazes de controlar a situação. O último acto de resistência
do xeique decorreu entre 1903/73, período da “ocupação afectiva” portuguesa.
O Xeicado de Sangage
Desde a sua
formação, esteve ligado ao sultanato de angoche. Obteve a autonomia no primeiro
quartel do século XIX através de aliança com os portugueses, os xeique de
sancul e mercadores baneanas da Ilha de Moçambique provocando hostilidade entre
angoche e portugueses. Em 1912, o xeique Mussa Phiri dirigiu uma resistência
contra os portugueses, contudo com o avanço da ocupação colonial, Mussa
aliou-se a este, passando a cobrar o tributo e participando na campanha
colonial contra Farelai.
Mussa-Phiri, mais
tarde mobilizou os seus homens e com apoio dos chefes macua do mogicual e de
Mogovolas, revoltou-se sem sucesso contra os portugueses. Mussa morre no exílio
no timor e a região transformou-se num regulado português.
O tráfico de escravo
O tráfico de
escravos era uma das formas de comércio, altamente lucrativa, já exercida pelos
mercadores fenícios. Nas sociedades mediterrâneas grega e romana, os escravos
constituíam um importante “artigo” comercial. Os indivíduos eram capturados em
incursões noutros territórios, nas guerras ou vendidos pela aristocracia
tribal. Os seres humanos, incluindo crianças, eram negociados nos mercados como
animais ou qualquer outra mercadoria. Em alguns centros de comércio havia
mercados especiais de escravos.
Alguns
senhores feudais costumavam pagar parte dos seus impostos anuais através da
oferta de escravos e tinham igualmente o hábito de os utilizar como ofertas ao
soberano ou aos governadores provinciais. Contudo, o escravo nem sempre era uma
“coisa” como estava instituído na lei romana, mas sim uma pessoa com direitos e
deveres definidos no estatuto do escravo.
Na China, já
no I milénio a.C., os escravos tornaram-se um importante objecto de trocas
comerciais. Por vezes, o valor dum escravo era inferior ao dum cavalo ou duma
junta de bois; cinco escravos custavam tanto como um cavalo; o valor dum
escravo equivalia a 20 novelos de seda. No milénio seguinte, eram organizadas
expedições aos países dos mares do sul para a captura de escravos, pois o
tráfico de escravos ocupava já um importante lugar no comércio externo. Havia um
constante mercado de escravos em quase todas as cidades, onde eram negociados
como qualquer mercadoria corrente. Eram colocados em cercados juntamente com o
gado e aí contados como se tratasse de gado de trabalho. Grupos de escravos
acorrentados eram enviados pelos traficantes para centenas de quilómetros de
distância.
No I milénio
d.C., árabes e beberes entregaram-se a um tráfico de escravos na costa Oriental
de África e através do Sara, que perdurou até ao século XIX. Os comerciantes
muçulmanos dispunham de grandes mercados de escravos além-fronteiras: na Europa
Central e de Leste, na Ásia Central, nas estepes situadas na orla das florestas
africanas. Durante os períodos de conquistas, as guerras permitiam a captura de
muitos prisioneiros o que facilitava o negócio do tráfico de escravos e o
tornava muito lucrativo. O tráfico de escravos prosperou devido à expansão do
Islão e do crescimento das relações comerciais. Na Arábia, século XVI, o
tráfico de escravos era um negócio importante e florescente. Os escravos eram
importados de África e destinados ao trabalho manual pesado como a extracção de
pedra e a construção civil, serviços domésticos, etc. Os tributos, que serviam
para alimentar as finanças reais, eram pagos com frequência pelo tráfico de
escravos. Muitas tribos nómadas desempenharam um papel importante no comércio
de escravos a longa distância.
Entre as
mercadorias negociadas no norte de África por genoveses, venezianos, espanhóis
e portugueses contavam-se os escravos. Para os mercadores dos países marítimos
da Europa Ocidental o tráfico de escravos tornou-se a mais lucrativa das
empresas, que movia muitos interessados, tornando-se difícil o monopólio. A sua
captura era em geral tarefa para os chefes africanos. Os proprietários de
navios ou os seus fretadores compravam os negros no melhor mercado e
transportavam-nos para a América em condições tais que muitos morriam na
viagem. Os navios estavam munidos com um equipamento especial para armazenar a
carga humana.
As feitorias,
espalhadas pela África Ocidental, serviam de pontos de contacto que permitiam
uma rotação mais rápida das frotas, pois os carregamentos de negros já
aguardavam aí e chegada dos navios. O comércio de escravos concentrou-se nos
grandes portos, particularmente nos que eram considerados livres.
A escravatura
praticava-se em África muito antes de 1500. O tráfico de escravos era praticado
paralelamente com uma contínua escravatura interna. Entre os africanos havia
escravos de “família “ ou de “guerra”, variando de região para região o modo
como eram explorados. Após esse ano, o tráfico de escravos é agravado por uma
nova dimensão intercontinental: o transporte para as Américas com a sua
impressionante história e consequências ainda não completamente avaliadas. O
tráfico era quase sempre organizado através de “contratos” entre parceiros
comerciais europeus e africanos. O recrutamento era confiado a “contratadores”,
que adquiriam este direito mediante o pagamento de licenças. Os europeus não se
envolviam directamente na caça aos escravos e preferiam comprá-los aos
africanos que se encarregavam de os capturar. Os mercadores europeus
permaneciam junto à costa onde os seus parceiros comerciais acorriam para
entregar de escravos capturados em guerras ou em ataques organizados, em troca
dos mais variados objectos, em geral de pouco valor. O grande desenvolvimento
do tráfico de escravos negros, na segunda metade do século XVI, foi impelido
pela necessidade mão-de-obra para as plantações tropicais americanas
principalmente de cana-de-açúcar e de algodão.
No continente
africano, a escravatura desencadeou uma gigantesca movimentação de populações.
É de salientar as perniciosas consequências sociais e económicas deste tráfico
que privou as populações dos seus membros mais vigorosos e dinâmicos, paralisou
o desenvolvimento da actividade produtiva. A procura dum refúgio seguro e a
instabilidade verificada entre as populações causou diversos movimentos
migratórios a uma escala variável com o tempo e o lugar. Foi, além disso, a
maior migração forçada intercontinental de sempre. Tornaram-se destrutivos os
efeitos dum círculo vicioso de trocas comerciais, armas de fogo por escravos, e
escravos por armas de fogo que seriam usadas na captura de mais escravos e,
assim por diante, indefinidamente. Muitos povos ocupam os seus actuais
territórios em consequência das deslocações provocadas pelo tráfico de
escravos. Desapareceram dos povoados os indivíduos mais jovens, mais vigorosos
e sãos. Tratando-se de populações essencialmente agrícolas, a produção e a
acumulação de bens alimentares mergulharam num caos generalizado, que destruiu
o processo produtivo. O tráfico de escravos instalou a guerra entre as tribos e
a violência no interior das próprias tribos. Os chefes do litoral passaram a
ver os seus súbditos como uma mercadoria e a guerrearem-se uns aos outros para
venderem os seus compatriotas. Os povos africanos eram impotentes perante as
armas de fogo dos negreiros europeus. As revoltas eram frequentes, mas
selvaticamente reprimidas. É difícil de estimar a amplidão deste tráfico que se
manteve durante séculos a uma cadência acelerada.
Portugal
conheceu o regime de escravidão através das relações de comércio com mercadores
árabes e a transformação dos mouros vencidos na guerra em cativos ou servos.
Era comum a troca de prisioneiros mouros por escravos de pele escura, em
proporção favorável em quantidade aos portugueses. O apoio da Igreja garantia a
exploração tranquila de mão-de-obra escrava em projectos de produção agrícola
para exportação, como meio de compensar as despesas com as navegações. Por
volta do ano de 1460, começa a era do tráfico de escravos organizado através de
acordos directos com os régulos da África Negra, a nível de Estado para Estado.
O tráfico de escravos africanos adquiria um carácter de aquisição de força de
trabalho em massa para fins de produção e de comercialização através dum novo
entreposto africano de compra de escravos e ouro, a Fortaleza de S. Jorge da
Mina. O tráfico de escravos africanos, já em moldes comerciais, tornou-se uma
fonte de lucros. Com os descobrimentos marítimos, em breve os portugueses se
aperceberam de que havia muito a ganhar se, juntamente com outras mercadorias,
levassem também escravos, tanto mais que a tentativa de atingir as regiões
auríferas não correspondeu às suas expectativas. O comércio de escravos
tornou-se rapidamente a principal fonte de lucro. Os pontos de tráfico
estendiam-se a toda a costa africana e fazia-se mesmo duma região para outra.
Em Portugal, e
depois no Brasil, um tipo especial de exploração de trabalho escravo consistiu
no aluguer dos serviços dos escravos a terceiros. Esta sublocação revela a
existência dum factor económico pouco estudado, mas que pode explicar a
extensão do uso do trabalho escravo mesmo por parte de pessoas de reduzidas
posses. Outro tipo de exploração caracterizava-se pelo exercício do comércio
ambulante ao serviço dos seus proprietários. A instituição de “negros de ganho”
criou a possibilidade de investir economias na compra dum ou mais escravos com
o objectivo de explorar comercialmente o seu trabalho e generalizou o emprego
de negros cativos em funções destinadas a completar a renda financeira. A queda
do preço dos escravos africanos deixava à gente de posses médias a opção de se
fazer servir por escravos e às grandes famílias a possibilidade de se darem ao
luxo de contratarem trabalhadores livres para uso doméstico.
A separação de goa e Moçambique
Em 19 de Abril de 1752, por decreto-régio do rei D. José I, Goa separa-se de Moçambique sendo nomeado governador e capitão-geral de Moçambique, rios Sena e Sofala D. Francisco de Melo e Castro. Com esta separação, a coroa portuguesa pretendia que Moçambique se subordinasse directamente a Lisboa e não a Goa, como era antes, pois pretendia obter o controlo da actividade comercial em Moçambique. Foi no século XV que começaram a penetração mercantil portuguesa no continente africano com maior intensidade no final deste mesmo século, pela demanda de riquezas existentes no continente africano como ouro, e o marfim, como por exemplo, nos mostra Alberto da Costa e Silva “Os cristãos começaram a conhecer a África Negra a bordo de caravelas com que, a partir da metade do século XV, costearam o continente. Era com os povos costeiros ou próximos ao litoral que o europeu se havia. Em poucas regiões tiveram eles acesso ao interior, de onde vinham os escravos, o marfim e o ouro. Inicialmente os portugueses se fixaram no litoral formando feitorias (fortalezas que serviriam para a segurança do território), em Moçambique, para negociações comerciais e por Moçambique ser uma rota estratégica para a Índia como nos mostra em uma de suas cartas o padre António Fernandes “Pellos anos de 1569, no primeiro governo o vice Rey Dom Luís de Ataíde, mandou o vigário geral da congregação o reverendo padre Frey Francisco de Abreu, dous religiosos para fundar em casa de religião em Mossambique que esta a quinze graus ao Sul da costa da África, grande escalla dos portugueses a essa conhecida pelo ouro, marfim, e escravos que de seu porto saem para o Oriente.
A resistência no sul de Moçambique
No sul de
Moçambique, a resistência teve varias formas tais como:
·
A
recusam de pagamentos de imposto, por exemplo, o pagamento de “palhotas” por
parte da população.
Os ataques dos
guerreiros locais ao posto militares portugueses. Temos vários exemplos de
resistência. Na região de Marracuene, próximo dos locais onde se situava o
posto militar português de Anjoane.
Os portugueses,
face a resistência local, são obrigados a estabelecer aliança com alguns chefes
da povoação.
Matibejane, chefe
de zixaxe e Mangunduane, chefe de moamba, recusaram aliar-se aos portugueses e
atacaram, em 1894, Lourenço Marques na zona sul, o poder português. Estes
vieram a ser derrotados pela tropa de António Enes, enviadas de Portugal, em 1895.
Os portugueses
tiveram que resistir por varias vezes aos ataques do chefes locais, alguns
fieis, ao imperador Ngungunhane.
Ngungunhane
enfrentou com êxito os portugueses em varias batalhas, mas por traição de
alguns dos chefes foi preso a 28 de Dezembro de 1895 e deportado para o
Arquepelago dos Açores em Portugal.
Resistência no centro de Moçambique
A RENAMO começou suas operações na província de Manica, centro de Moçambique, com André
Matsangaíssa, um
dissidente da FRELIMO. Matsangaíssa foi morto pelas forças
governamentais em Gorongosa no dia 17 de Outubro de 1979, num ataque da RENAMO a uma posição das forças governamentais.
A base era conhecida com o nome de "Casa Banana". Depois de uma luta
pela sucessão violenta, Afonso Dhlakama tornou-se o novo líder da RENAMO.
Durante a Guerra Civil moçambicana da década de
1980, a RENAMO também recebeu o apoio da África do Sul. Nos Estados Unidos, a CIA e os conservadores fizeram lobby para o apoio à RENAMO, no entanto
encontrou-se forte resistência por parte do Departamento de Estado, que disse
"não reconhecer ou negociar com a RENAMO". O governo britânico de Margaret
Thatcher não enxergava a guerra civil em Moçambique como
parte da Guerra Fria, assim a princípio apoiava informalmente
a RENAMO. No entanto quando a FRELIMO tomou a atitude de fechar a fronteira
para Rodésia, fato que vinha a calhar com os interesses britânicos que naquele
momento se punha contra a colónia rebelde (Rodésia), o governo britânico passou
a apoiar a FRELIMO, enquanto o governo rodesiano apoiou a RENAMO.
Resistência no norte de Moçambique
Durante
muitos anos, a ideia de que a guerra civil que assolou Moçambique era conduzida
por um exército mercenário ao serviço de interesses externos foi considerada
inquestionável, desconhecendo-se que a Renamo possuía uma base social de apoio
rural e que a produção agrícola constituía uma das fontes de financiamento da
guerra. Após a independência, o partido-Estado Frelimo provocou uma
desestruturação social, económica, política e cultural das sociedades rurais,
conduzindo um projecto de desenvolvimento e de construção da nação autoritário
e centralizado, que pôs em causa direitos fundamentais de cidadania. A adesão à
guerra de parte da população pode assim ser interpretada como uma
tentativa de conquista desses direitos.
Neste
trabalho, através de dois estudos de caso contrastantes, pretende-se revelar as
estratégias de reprodução social e económica que permitiram a sobrevivência das
populações durante o conflito e a posterior reconstrução, mas também as
múltiplas formas que a afirmação dos direitos de cidadania pode encobrir.
O sul de Moçambique e o trabalho migratório para áfrica de sul
Relações económicas
entre 1885 – 1930, a região sofreram uma transformação: a economia era baseada
nas relações com RSA, com abertura das minas de Witwatersrand (1886) e a
construção de linha férrea.
Em 1886, o transporte de mercadorias de Transvaal fazia-se por estrada. Foi neste ano que iniciaram as obras de construção da linha férrea, concluída em 1894, facilitando o trafico de mercadorias e de passageiros.
Principais acordos regulamento de 1897
O ano de 1895
marcou o início das campanhas militares no sul e das relações de Moçambique e a
RSA, concretizadas um ano depois com o acordo que estabelecia o recrutamento da
mão-de-obra em Moçambique. Neste contexto a câmara de minas criou a Rand Native
Labour Association (RNLA). Com este órgão, estavam criadas as condições para a
acumulação, resultante de redução do salário dos trabalhadores em 20 – 25%.
Depois da guerra em
1900, a indústria foi estruturada e necessitada de mão-de-obra face a esta
situação, esboçou um novo plano que condicionava a assinatura do acordo à
garantia do uso dos caminhos-de-ferro para a circulação de mercadorias do Rand.
Modus vivendi de 1901
O Modus
Vivendi assinado a 18 de Dezembro de 1901 no contexto da guerra Anglo-Boer
(1899-1902), visava solucionar a crise de mão-de-obra com que as minas do
Transvaal vinham se deparando e foi acordado com o Transvaal sem tomar em
consideração os interesses de outras colónias, como o Cabo e o Natal.
Este acordo
privilegiava a utilização do porto de L. Marques no intercâmbio comercial de e
para o Transval e a produção agrícola Portuguesa em detrimento da produção do
Natal e do Estado Livre de Orange que tinham no Transval o seu potencial
mercado.
Ao aceitar
este acordo o Transval não tinha em vista prejudicar as outras colónias, mas
apenas agradar aos Portugueses e conseguir vantagens em relação a mão-de-obra,
sua grande necessidade.
Pela primeira
vez foi fixado o período dos contratos, que passou a ser de um ano, sem limite
de recontrato. Definiu o emolumento de 13 shillings por cada recrutado, para
despesas de fiscalização, passaportes, contratos registos, etc...com acréscimo
de 6 pence por mês, durante todo o período de recontrato.
Em 1903 com a
unificação aduaneira das quatro colónias britânicas na África do Sul (União
aduaneira Sul africana), o governo colonial britânico do Transval viu-se
obrigado a negociar uma redução parcial das vantagens comercias de Portugal.
No fim das
negociações de 1904, foi assinado um “Aditamento ao Modus Vivendi”, em que foi
definido que produto da indústria de cada uma das colónias interessadas
(Moçambique e Tranval) apenas seriam admitidos, livres de direitos, na outra
colónia quando os elementos ou principais partes constituintes de tais produtos
fossem originários da colónia exportadora
A diferença entre o nacionalismo europeia e africana
Como é o
conhecimento de todos nós, o nacionalismo europeu é o
patriotismo da Europa. Tem relação com o pan-nacionalismo europeu. Não é uma
palavra muito bem definida. Há gente que pensa que está relacionado com a União
Europeia e as suas instituições mas outros pensam que está relacionado com todo
o continente europeu. Esta ideia teria como fim a criação dos Estados Unidos
da Europa ou
a total ampliação da União Europeia.
São vários os movimentos dentro
do espectro
político-ideológico que se apropriam do nacionalismo,
ora, como elemento programático, ora como forma de propaganda. Nomeadamente,
nos finais do século XIX, em Portugal contra
o iberismo. Já durante o
século XX, o nacionalismo permeou movimentos radicais como o fascismo, o nacional socialismo na Alemanha, o saudosismo e o integralismo no Brasil e em
Portugal, especialmente durante o (Estado
Novo no Brasil e Estado Novo em
Portugal). O nacionalismo é uma ideologia que se pode dizer moderna com
antecedentes antigos, com uma definição maior das fronteiras das nações em
países: surgiu numa Europa pré-moderna
e pós-medieval, a partir da superação da produção e consumo feudais
pelo mercado capitalista, com a
submissão dos feudos aos
estados modernos (ainda absolutistas ou
já liberais), com as reformas
religiosas protestantes e a contra-reforma católica – factos
históricos estes que permitiram, ou até mais, que produziram o surgimento de
culturas diferenciadas por toda a Europa, culturas que, antes, eram
conformadas, deformadas e formatadas pelo cristianismo católico,
com o apoio da nobreza feudal.
Surgiu como uma ideologia da Revolução
Francesa, pois ajudou a convocar soldados mais leais e baratos do
que nos mercenários e foi contrária
ao domínio imperialista político-cultural do cristianismo católico que se
apoiava nos nobres feudais e ajudava a sustentar a superada, limitada e
limitante economia feudal, mas também
como uma ideologia burguesa, pois as
massas camponesas e o pequeno proletariado que
também surgia passavam do domínio da nobreza feudal para o da burguesia
industrial – e a ideologia dominante em uma sociedade é a ideologia das classes
dominantes.
Após a definitiva vitória
político-cultural dos burgueses sobre
a nobreza feudal –
a qual foi submetida pela destruição ou pela absorção pela cultura e pela
política burguesa – foi parcial e progressivamente deixado para trás, como uma
ideologia que teria sido importante, mas que já não seria mais do que uma
lembrança histórica.
O nacionalismo ressurge nas colônias europeias do Novo Mundo, nas Américas, e
principalmente na América Latina, antes mesmo
do surgimento da ideologia comunista européia,
como um renovado nacionalismo, um "nacionalismo revolucionário" já
com alguns elementos socializantes; Simón Bolívar foi o
líder maior desse nacionalismo revolucionário latino-americano, ao lado de
figuras como Tupac Amaru, San
Martín e José Artigas.
Ressurge na Europa, pouco antes do
surgimento da ideologia comunista, como um outro nacionalismo, como um
nacionalismo revolucionário socializante, ou até mesmo socialista, e anti-imperialista,
contrário ao imperialismo
europeu, o qual, além de explorar as colónias americanas, asiáticas e africanas, explorava
ainda as nações europeias mais pobres; Giuseppe Mazzini foi o
líder maior desse nacionalismo revolucionário na Europa.
O nacionalismo revolucionário europeu,
como uma ideologia anti-imperialista, também
influenciou o pensamento dos latino-americanos que souberam apreender dos
europeus aquilo que fosse interessante e útil, desenvolvendo, no Novo Mundo,
uma prática e uma luta anticolonialista, a qual se
traduziu na ação e no discurso de homens
como Tiradentes, San Martín
e Giuseppe
Garibaldi.